Ao redor

Uma vida, inúmeras histórias.
Esses dias me peguei observando os rostos das pessoas e tentando traduzir os sentimentos que elas traziam consigo. É o “boa noite” cansado do motorista, que não sabe quantos minutos faltam para completar aquela viagem. A jovem que passou do ponto na volta da faculdade, sem saber o que pesava mais: a mochila repleta de livros ou as cobranças dos pais que querem que ela seja aquilo que ela não é. A mãe que acorda em cada curva que o ônibus faz e aproveita para observar se ainda está sendo capaz de segurar o filho e as sacolas ao mesmo tempo. É ver aquele homem com o semblante cansativo depois de um longo dia de trabalho e pensando como fazer para tentar driblar o sistema que corrói o homem. A moça com os olhos fixos na tela do celular e o sorriso ao ouvir que chegou uma notificação nova (alguém deve estar fazendo-a feliz). Os múltiplos olhares voltados para a janela de quase todos os passageiros ao ver um morador de rua. Mas será que eles sabem os motivos de ele estar ali? O temor e o medo da mulher que desceu sozinha em uma rua com pouca iluminação traduzem a triste realidade da insegurança nas cidades. A indignação e vergonha nítidas no balançar da cabeça do senhor que não pôde sentar-se por tamanha falta de educação e gentileza das pessoas. É incrível como os olhares e os pesos das pálpebras podem nos dizer o que palavras não seriam capazes.
O ser humano é egoísta demais ao ponto de achar que é capaz de julgar o que o outro é. Será que ele sabe tudo o que passa por trás de cada pessoa? De cada coração? Será que ele sabe a dor que o outro traz e as mágoas que tenta deixar pra lá? Será que ele reconhece que, cada pessoa traz consigo uma história diferente? Ou melhor, várias histórias? 



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